O que exatamente faz um pesquisador?

O que exatamente faz um pesquisador?

Sueli Javaroni, Maria Zampieri, Suellen Moura, Franciele Santos

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4 de julho de 2024

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Tempo de leitura: 20 minutos

Essa é uma pergunta que qualquer pessoa que não esteja diretamente vinculada ao meio acadêmico poderia fazer…No entanto, mesmo que tenha ficado no senso comum, essa resposta apareceu, pelo menos na área de Biológicas, durante o período pandêmico, nos anos de 2020 e 2021. Foi noticiado o incansável trabalho de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, que estavam no que chamamos de “linha de frente”, pois se arriscavam mais diretamente por estarem em contato com indivíduos infectados pela Covid-19. Outra notícia divulgada amplamente foi a “corrida” pelas vacinas, em que cientistas de diferentes laboratórios se debruçavam a investigar meios para garantir uma porcentagem relativamente boa para a eficácia dos imunizantes.

Agora, voltando a nossa pergunta, será que podemos pensá-la para além da área da saúde? Ainda tendo como base o senso comum (e talvez a série “The Big bang theory”), alguns poderiam dizer que um pesquisador estuda o espaço, ou melhor, formas de colocar um foguete no espaço…entre outras questões envolvendo Física, Química, Matemática, etc. Essas respostas, mesmo com base no senso comum, fazem sentido! Mas e as outras áreas de pesquisa, o que fazem? Que impactos imediatos trazem para a sociedade?

Vamos tomar a Educação, por exemplo, ainda delimitando um pouco mais, chegando na Educação Matemática, que é o campo de atuação das autoras que aqui escrevem. O que faz um pesquisador em Educação Matemática? Ok, podemos ter várias respostas, pois se tomarmos como referência a pesquisadora Maria Bicudo (que fez parte da fundação do primeiro programa de pós-graduação em Educação Matemática da América Latina, na Unesp de Rio Claro), a Educação Matemática traz em seu cerne preocupações com a Educação e com a Matemática, e, por isso, dialoga com estudos dentro de outros campos de conhecimento como: Didática, Epistemologia, Antropologia, Sociologia, Linguística, Psicologia, Ciência da Computação, etc. Além do mais, os pesquisadores em Educação Matemática, direta ou indiretamente, abordam questões envolvendo processos de ensino e aprendizagem.

Então está certo, talvez a primeira questão esteja respondida (ainda que sem a devida profundidade), sobre o que faz o pesquisador em Educação Matemática…mas e sobre a questão dos impactos imediatos para a sociedade?

Com essa pergunta temos que tomar muito cuidado, pois ela recai sobre algo nocivo que temos falado muito nesses tempos, também com base no senso comum, mas temos falado muito…que é o imediatismo. E aí desconsideramos algo que nos é muito caro na Educação (Matemática) que é o processo, o respeito pelos diferentes “perfis” de aprendizagem, o respeito pela diferença, que é o processo de “educar para a paz” como defendia recorrentemente o pesquisador Ubiratan D’Ambrosio (pioneiro educador matemático no Brasil). O “educar para a paz” parece utópico à primeira vista, mas não é, porque esse “educar para a paz” deve ser entendido como um processo, como algo que se quer atingir, como uma intencionalidade que deve estar imbricada à nossa prática, como pesquisadores, professores…como seres-humanos.

Como pesquisadoras em Educação Matemática, que particularmente olham para a formação de professores de Matemática e para os processos de ensino e aprendizagem com as tecnologias digitais, temos que compreender o dinamismo das escolas, as movimentações provocadas pelas mudanças curriculares, dialogar com nossos pares, estudar muitas referências teóricas que estão em sintonia com nossa visão de mundo e visão de conhecimento, que como diz o pesquisador Marcelo Borba (também um dos pioneiros na fundação do PPGEM) o conhecimento é contingente e passível de mudança ao longo da História. Além disso, temos que estudar as tecnologias, os materiais didáticos, referenciais teóricos sobre formação de professores, sobre aprendizagem, produzir e publicar artigos, participar de eventos, apresentar e publicar trabalhos em anais de eventos, ministrar ações de formação continuada, lecionar na graduação, na pós-graduação, fazer parcerias, participar dos órgãos colegiados da universidade…não é pouca coisa!

Atualmente, estamos todas envolvidas no projeto de pesquisa temático “Ensino e aprendizagem com calculadoras: possibilidades para o professor de Matemática”, coordenado pela Profa. Dra. Sueli Liberatti Javaroni, e fruto de uma parceria entre nosso grupo de pesquisa (GPIMEM) e a Casio LTDA. Projetos dessa natureza são comuns na nossa área e também são conhecidos como “projetos guarda-chuva”, o que significa que eles contemplam diversas pesquisas “dentro” dele, cada uma com uma especificidade, mas tendo como foco o tema principal, que nesse caso é o uso de calculadoras.

Assim, impregnadas pelo “educar para a paz”, pelos nossos referenciais teóricos, pelos nossos estudos, pelo diálogo com os outros (incluindo o diálogo com a escola), temos realizado diversas ações voltadas tanto para a formação inicial quanto para a continuada, com foco no ensino de Matemática com calculadoras científicas e gráficas da Casio. Essas ações estão abrangendo as Diretorias Regionais de Ensino de: Bauru, Jaú, Rio Claro, São Carlos, São José do Rio Preto e Tupã. Ao longo dos quase três anos de vigência do projeto, já estabelecemos parcerias profícuas em sala de aula, tanto na graduação quanto na Educação Básica e temos atrelado as calculadoras a abordagens com enfoque investigativo, de modo a suscitar criticidade entre os educandos, buscando superar, mesmo sendo um “trabalho de formiguinha”, a fragmentação curricular, colocando a Matemática, a Tecnologia e as demais áreas de conhecimento tratadas em nossas atividades como um meio para que (futuros) professores e educandos reflitam sobre a importância do conhecimento, atribuindo sentido a ele dentro das comunidades em que estão inseridos.

São ações isoladas, mas que quando são compartilhadas e amplamente divulgadas têm o potencial de instigar outras pessoas e fomentar novas e frutíferas parcerias. Como dissemos, o que nos é caro nas pesquisas em Educação Matemática é o processo, e dentro desse processo é que vemos os belos frutos, que são desdobramentos de um trabalho sério e árduo!

 

BICUDO, Maria Aparecida Viggiani, Pesquisa em Educação Matemática. ProProposições, Campinas,v.4,n.1 [10]p.16-23.1993.

BORBA, M. C. A Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. In: Reunião Anual da Anped,27. 2004, Poços de Caldas. Anais eletrônicos. .. Poços de Caldas: Anped, 2004.

D’AMBROSIO, U. A busca da Paz: Responsabilidade de Matemáticos, Cientistas e Engenheiros. Revista da Universidade Vale do Rio Verde , v. 9, n. 1, p. 66-77, 2011.

 

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"Porque a BNCC não te diz como fazer. A BNCC diz que é importante que se use [calculadoras]. É importante que se leve para sala de aula as tecnologias, a calculadora ou uma planilha. Mas o como fazer, isso ela [a BNCC] não faz. O como fazer é o que a gente faz na Casio. "

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Ana Cláudia Cossini Martins

Professora Especialista em Currículo (Física)
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

"Ele [o estudante] precisa ter todo um conhecimento matemático para que ele possa inserir os comandos na calculadora. A medida que a gente vai trabalhando com esses comandos matemáticos, ele vai desenvolvendo o seu raciocínio lógico-matemático ."

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Maria Regina Duarte Lima

Professora Especialista em Currículo (Matemática)
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

"Eu fico ansiosa esperando cada formação, porque eu saio renovada e aprendendo mais a cada formação. Porque nós educadores somos eternos estudantes."

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Paula Roberta Pereira da Silva

Professora Componente Física
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo